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Cobrador de ônibus cria projeto social para crianças de Fazenda Coutos

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Cobrador de ônibus cria projeto social para crianças de Fazenda Coutos
Foto: Arisson Marinho

Cobrador de ônibus e estudante do curso de educação física, Délio Lima de Souza, 32 anos, ainda arranja tempo todos os dias para dar aulas gratuitas de jiu-jitsu a moradores de todas as idades na comunidade da Lagoa da Paixão, em Fazenda Coutos, no Subúrbio Ferroviário. 


Morador do local há 16 anos, ele teve a ideia de fundar, em 2012, o projeto Formando Campeões. Residente em uma área que praticamente só aparece nos noticiários por causa do alto índice de assaltos e mortes ligadas ao tráfico de drogas, Délio decidiu tentar mudar a realidade ao seu redor. 


“Cresci aqui e vi que nada mudava e muitos meninos foram para o caminho das drogas”, explica Délio, sobre a motivação do projeto. “Me juntei com três amigos que treinavam comigo, mas só eu queria dar aulas de graça, então segui sozinho. Eu tenho meu trabalho fora daqui e as crianças não têm condição de pagar. Eu nunca ia cobrar por essas aulas. É um projeto social, que faz com que eu me sinta mais humano”, conta Délio, que foi despejado de um galpão onde dava as aulas por não ter condições de pagar o aluguel mensal.


Délio dá aulas para aproximadamente 100 pessoas, desde crianças de 3 anos a adultos, das 18h às 20h. Na rua, uma lona e 15 placas de borracha se transformam em tatame. “Um dos meninos que mais me ajudam nas aulas era envolvido com o tráfico de drogas. Os dois amigos que andavam com ele morreram por conta disso. Ele foi o único que sobrou. Ele e a mãe sempre agradecem e dizem que o jiu-jitsu salvou a vida dele”, orgulha-se o professor.


Délio diz ainda que nunca suspendeu nenhuma aula por causa da violência no bairro. “O tráfico respeita o esporte, ninguém se envolve. O esporte é como se fosse a igreja da comunidade, é uma coisa sagrada e respeitada”.


MUNDIAL 


Além das técnicas de jiu-jitsu, Délio cobra disciplina e respeito dos alunos, principalmente os mais novos. O projeto vive de doações e, por conta disso, muitos jovens dividem o mesmo quimono durante as atividades.


Atualmente, mais de 30 jovens que treinam nas ruas do bairro estão classificados para disputar o Campeonato Mundial de jiu-jitsu esportivo, em São Paulo, entre os dias 23 e 26 de julho. Alguns, porém, ficarão de fora por falta de dinheiro para comprar passagens.