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Famoso Merenda do Subúrbio

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Famoso Merenda
Foto: Humanos de Salvador

JORGE MENDES DE OLIVEIRA, 47 ANOS, PERIPERI | Nos domingos de sal, sol e partido alto do Subúrbio Ferroviário, ele já deixou de ser humano. Com sua sunga personalizada, de Paripe à Ribeira, tornou-se monumento vivo das praias.

 

 Quem é esse aí? É a pergunta que todos vocês se fazem - provavelmente com uma expressão de espanto e um sorriso escroto - quando encaram esta imagem. Mais respeito, mais respeito. Talvez a pergunta correta sequer seja "quem é esse aí?", mas sim "que é isso aí?".

 

 Sim, porque, em se tratando de Subúrbio Ferroviário, vocês estão diante de um monumento, um caso para o Iphan ou Ipac, algo quem sabe do mesmo porte cultural e histórico do Parque São Bartolomeu ou da Igreja de Nossa Senhora de Escada, construída no século 16. Vocês estão diante de Jorge Mendes de Oliveira, ou, como diz a inscrição na sua sunga rosa chiclete, vocês estão diante de Merenda.

 

 Pelo menos é como ele mesmo costuma definir-se. “Entenda uma coisa: eu sou tipo um patrimônio de Periperi. De Periperi e região, compreendeu? Resumindo, é isso. Sou um patrimônio histórico de Periperi. Eu sou Merenda”, afirma, sem rodeios. Pois bem. Essa figura tombada pelo inconsciente coletivo da região do Boca de Galinha costuma instalar-se em área da União. Merenda é atração turística nos sambas, especialmente os de partido alto, que rolam nos estabelecimentos à beira mar do Subúrbio.

 

“Ah, se tiver rolando um partido, eu quebro tudo mesmo. Comigo não tem conversa, não”, avisa. E Merenda é um monumento ao domingo de sal e sol e à praia que vai do meio-dia até as oito da noite, um monumento à silhueta carnuda e à barriga que cai sobre a tanga, um monumento à cara cheia de No Grau e à segunda-feira de ressaca. Merenda é a estátua da liberdade suburbana, uma estátua que mexe com gosto seus largos quadris.

 

 Há 15 ou 20 anos, frequenta quase todos os finais de semana as praias de Periperi, São Thomé de Paripe, Tubarão, Cantagalo, Plataforma e Ribeira. “O pessoal me vê de longe e diz: ‘lá vem Merenda’. Na praia que eu chego as meninas largam os namorados e vêm até mim”. Mas, e a sunga? Todos querem saber da sunga. “A sunga é tipo uma marca registrada? O patrimônio tem que ter registro, né?”

 

Merenda é um sujeito ocupado. Para concluir esta entrevista foram necessários uns sete ou oito telefonemas - quando ele atendia -, além de três tentativas frustradas de conversas pessoais. “Olha, eu vou ter que desligar”, desculpou-se várias vezes. Isso porque, quando não está servindo de ponto de visitação em Periperi, é motorista de ônibus da linha Santa Cruz/Calçada/Bonfim. São oito anos na direção do carro 1520 da Verdemar. Como ofício extra-oficial, é requisitado árbitro de futebol das ligas suburbanas. No volante ou no apito, Jorge também já é Merenda. “Essa coisa de Merenda se espalhou e todo mundo me chama assim em todo o lugar”. 

 

O apelido tem duas explicações. A primeira: "Rapaz, eu não guento ver comida, vivo merendando. Ainda mais se tiver açúcar. Não guento ver doce". E assim Jorge não só virou Merenda, como adquiriu diabetes. "Hoje eu até estou mais enxuto. Meu físico antes era melhor, muito mais avantajado", lembra. A segunda explicação para a alcunha ainda é um mistério. Disse que entregaria com uma condição. "Aí só pessoalmente. Venha me ver no partido desse domingo que te conto", convidou. Então, quem quiser descobrir o outro motivo, já sabe.

 

Fonte: Humanos de Salvador